Podemos  localizar em nossa vida fases em que uma doremocional permanece  instalada em nós por um longo período - um ano e meio, pelo menos. Vamos  dormir sabendo que, ao acordar, sentiremos a mesma dor no peito.  Geralmente isso ocorre quando vivemos algo maior do que nossa  capacidade de elaborar.  A meta de transformar o sofrimento em autoconhecimento faz com que nos  sintamos íntimos da nossa dor, tão próximos dela que, às vezes, sentimos  pena de deixá-la. 
Eu me lembro claramente da primeira vez que senti  nostalgia por perceber que uma dor emocional estava para acabar. Cheguei  a perguntar para Gueshe Sherab: Será que sem esta dor continuarei  aprendendo tanto quanto aprendi ao senti-la?. Ele riu e me respondeu:  Você não precisa chamar a dor para evoluir, pode ter certeza que sempre  haverá sofrimento suficiente para aprender algo com ele. Quando a mente  não está sobrecarregada com uma dor intensa, pensa melhor.  Se estivermos sofrendo pela mesma dor há muito tempo, devemos  identificar o momento de nos desapegarmos dela. É necessário sentirmos a  dor apenas enquanto ela nos ajudar a aprender mais a nosso próprio  respeito, ou seja, enquanto ela representar uma forma de ampliarmos a  visão acerca de nós mesmos. 
Parece óbvio que ninguém deseja se apegar à dor. Na realidade, porém,  desapegar-se dela talvez seja um de nossos maiores desafios.  Aceitar a necessidade de abandonar um padrão emocional, mesmo que ele  implique sofrimento, pode ser tão difícil quanto aceitar a morte de um  ente querido, pois sentimos como se perdêssemos algo de nós mesmos. Em  ambos os casos devemos aprender a fazer o luto.
 Como escreve Christine  Longaker em Esperança diante da morte (Ed.Rocco): O processo de  recuperação da nossa dor pode nos ajudar a viver de maneira mais plena e  apreciar cada dia e cada pessoa, como uma dádiva insubstituível. No  luto, devemos por fim nos desapegar da pessoa que se foi; no entanto,  podemos manter o seu amor conosco. Não somos abandonados na perda;  podemos nutrir nossas memórias de amor, e permitir que o amor continue  fluindo na nossa direção. Do mesmo modo, quando nos separamos de um  padrão emocional dolorido com o qual convivemos por tantos anos, devemos  manter a consciência de sua importância em nosso processo de  autoconhecimento: uma forma de gratidão pelo aprendizado. 
Sogyal Rinpoche sugere o contato com a natureza como um potente método  de pôr fim à dor: Um dos métodos mais poderosos que conheço para aliviar  e dissolver o sofrimento é ir para a natureza, contemplar uma  cachoeira, em especial, deixando que as lágrimas e a dor saiam de você e  o purifiquem como a água que flui. Pode também ler um texto tocante  sobre a impermanência ou o sofrimento, e deixar a sabedoria contida em  suas linhas trazer-lhe consolo. 
Aceitar a dor e pôr-lhe fim é possível. (O livro Tibetano do Viver e Morrer,   Ed. Talento )  Quando aceitarmos o fato de que podemos experimentar conscientemente  nossa dor, então, estaremos prontos para nos liberar dela! Finalmente  romperemos o hábito de autocomiseração e estaremos aptos para sermos  felizes.  A intensidade da dor de uma emoção possui um tempo que lhe é próprio,  mas que também tem seu fim. Se ela continuar presente depois de um tempo  prolongado é porque a estamos invocando em demasia. É melhor pararmos  de invocar essa dor e abrirmo-nos para o desconhecido, perguntando-nos:  Como serei sem esta dor?  Muitas vezes encontramos justificativas nobres para não mudar, quando,  na realidade, estamos é precisando ser mais sinceros com nossa fraqueza.  A sinceridade é um antivírus contra as interferências interiores e  exteriores, pois quando somos sinceros não fazemos rodeios. A  sinceridade nos dá coragem e abertura para lidar com qualquer situação,  agradável ou desagradável. Desta forma, nos abrimos para o mundo. A  falta de foco é um modo de nos protegermos das exigências do mundo, e de  adiarmos nossa participação nele. 
Ao saber quem somos, podemos adquirir a flexibilidade de perceber  igualmente as nossas necessidades e as dos outros sem privilegiar  nenhuma das partes. Assim, não estaremos amarrados a nós mesmos, nem nos  confundiremos com os desejos dos outros.  
Extraído do livro O livro das Emoções de Bel Cesar, Ed. Gaia. 

 
 
 
 
 

 
 
 
 
 
 
 




 
 
 


 
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