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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Violência e trauma emocional




A violência tornou-se, nos últimos anos, parte do cotidiano da vida de quem mora nas grandes cidades. Todos os dias sabemos pelos noticiários de casos de seqüestro, seqüestro-relâmpago, assalto, roubo, furto, abuso sexual e outros tantos tipos de crimes contra a pessoa. Praticamente todos nós conhecemos alguém na família, algum amigo ou conhecido que já sofreu algum tipo de violência.

Essas pessoas, vítimas de um evento ou de uma situação traumática, podem desenvolver um quadro que hoje denominamos " transtorno de estresse pós-traumático " (PTSD, como é conhecida em inglês, post-traumatic stress disorder).

Essa doença já é conhecida há muito tempo, tendo sido descrita antigamente com o nome de "neurose de guerra", pois era diagnosticada principalmente em soldados ou pessoas expostas a situações de guerra ou campo de batalha. Freud também descreveu esse quadro, relacionando alguns sintomas emocionais a traumas vivenciados anteriormente. Nos dias de hoje, com o aumento de múltiplas formas de violência na sociedade, o transtorno de estresse pós-traumático vem se tornando cada vez mais freqüente.

Manifestações do transtorno de estresse pós-traumático: revivescência do trauma, hiper-reação física e esquiva e entorpecimento emocional.

A pessoa exposta a evento traumático que envolveu risco de vida ou de lesão física grave e que reagiu com intenso medo, pavor, estresse ou sensação de impotência diante do evento, passa a reviver esse evento em sua mente de modo persistente (chamado "flashback").

Imagens, lembranças, pensamentos voltam à mente mesmo contra a vontade da pessoa (fenômeno denominado "intrusão"). Muitas vezes um estímulo que relembre o evento (p. ex., um ruído) é suficiente para desencadear uma reação semelhante à que ocorreu no evento, mesmo que a pessoa saiba que não está exposta a nenhum perigo real. Passa a dormir mal, sonha com o evento traumático, acordando apavorada.

O organismo desenvolve uma hiper-reação física aos estímulos ("estado de alerta"), como se estivesse sempre ameaçado de morte. Cada vez que isso acontece, desencadeia-se no organismo uma reação física de medo e estresse, com sudorese excessiva, falta de ar, palpitações, tontura, vertigem.

A pessoa pode tentar evitar locais ou situações que estejam associadas ao trauma, restringindo sua vida diária (fenômeno de "esquiva"). Torna-se irritável, com dificuldade de concentração, dificuldade para conciliar o sono, estando sempre num "estado de alerta", como se algo fosse acontecer. Eventualmente sente-se como que "anestesiada", incapaz de sentimentos em relação aos amigos e familiares, indiferente às coisas ou pessoas que lhe traziam prazer anteriormente.

Estima-se que aproximadamente 25% das pessoas expostas a uma situação traumática desenvolvam transtorno de estresse pós-traumático. Ele é duas vezes mais freqüente nas mulheres do que nos homens, calculando-se que ocorra em cerca de 10% da população geral. Usualmente, o transtorno de estresse pós-traumático dura alguns meses, mas em cerca de 50% dos casos pode persistir por anos e dominar a vida da pessoa.

Com freqüência, associam-se ao estresse pós-traumático outros transtornos mentais, como depressão, síndrome do pânico, ansiedade crônica e abuso ou dependência de álcool e drogas, além de doenças psicossomáticas. Em casos mais graves, podem ocorrer idéias de suicídio.
O que causa o transtorno de estresse pós-traumático?
A reação de estresse é um fenômeno normal necessário para a sobrevivência do indivíduo. Diante de uma situação de ameaça, o organismo reage rapidamente, com várias mudanças bioquímicas, que deixam a pessoa preparada para "lutar ou fugir". Tal fenômeno é também observado nos animais.

Em situação normal, uma vez que o perigo seja superado, o organismo volta gradualmente ao seu estado de equilíbrio natural, desaparecendo o estresse. Acredita-se que no transtorno de estresse pós-traumático o organismo não é capaz de voltar a seu estado natural, permanecendo "em alerta", o que leva a um "círculo vicioso", bioquímico e psicológico, agravando sucessivamente o quadro.

Estudos mostram que as pessoas memorizam melhor eventos com conteúdo emocional (seja este prazeroso ou aversivo) do que eventos neutros. Este mecanismo é adaptativo, já que estímulos emocionais geralmente têm importância para a sobrevivência. Acredita-se que este mesmo mecanismo seja responsável pelas memórias intrusivas que ocorrem no transtorno de estresse pós-traumático.
Quais os fatores que predispõem ao transtorno de estresse pós-traumático?
Dois fatores devem ser considerados: de um lado o tipo e a intensidade da violência, de outro o indivíduo que é sua vítima.

Sabe-se que pessoas que já sofreram traumas anteriores têm maior chance de desenvolver transtorno de estresse pós-traumático diante de um novo trauma. Esses traumas anteriores podem remontar à infância e adolescência, e deixam a pessoa mais vulnerável a um trauma atual. Esse fenômeno tem caráter cumulativo, de modo que quanto maior o número de traumas anteriores sofrido pela pessoa, maior a chance de desenvolver a doença.

No entanto, sabe-se também que muitas pessoas sofrem diversas experiências traumáticas e não desenvolvem o transtorno de estresse pós-traumático; elas teriam uma melhor capacidade de adaptação às adversidades potencialmente traumáticas, reagindo com maior flexibilidade e resistência (o que vem sendo denominado de " "resiliência"). Elas teriam o que se poderia chamar de uma "personalidade forte", reagindo de modo positivo e superando o trauma.
Crianças e adolecentes
Crianças e adolescentes são particularmente vulneráveis a traumas, pois sua estrutura psicológica está ainda em formação e é mais frágil que a de um adulto. As manifestações do transtorno de estresse pós-traumático nessa população, em princípio, são semelhantes às do adulto; no entanto, crianças menores podem ter maior dificuldade de expressar suas queixas, dificultando o reconhecimento da doença. Nestes casos é preciso estar atento às mudanças de comportamento da criança, a queixas vagas de medo, crises de choro sem motivo aparente, medo de ficar só, medo de ir dormir.

Algumas podem "teatralizar" aspectos do ocorrido, seja em brincadeiras ou desenhos. Podem perder alguma habilidade já adquirida (p. exemplo, voltar a urinar na cama, voltar a "chupar o dedo"), mostrando-se mais regredidas ou infantis do que o esperado para a idade (p. exemplo, falando como um "bebê").
Tratamento
Muitas pessoas acreditam que serão capazes de superar sozinhas o evento traumático e relutam em buscar ajuda; outras se sentem culpadas pelo que ocorreu (por exemplo, se o evento traumático resultou na morte de um ente querido) e se punem não buscando tratamento. Com isso, o transtorno vai se agravando e prejudicando a qualidade de vida da pessoa, à medida que prejudica suas atividades cotidianas e muitas vezes leva a outros problemas, como depressão, abuso de álcool e drogas.

O tratamento do transtorno de estresse pós-traumático compreende o uso de medicamentos e de psicoterapia. Os medicamentos mais utilizados são os antidepressivos. Estudos demonstram que essas medicações diminuem a freqüência de intrusões de memória e a hiper-excitabilidade, características da doença. Calmantes (medicações ansiolíticas) podem ser utilizados para controle de ansiedade e insônia.

A psicoterapia visa auxiliar o paciente a lidar com a experiência traumática, procurando trabalhar com a experiência traumática em si e suas conseqüências, as emoções geradas por esta. O terapeuta auxilia a pessoa a examinar o ocorrido em um contexto mais neutro, com o acolhimento necessário para que o trauma possa ser re-pensado. Ao mesmo tempo, técnicas de controle de ansiedade permitem a redução dos sintomas físicos associados à lembrança do evento traumático, propiciando à pessoa um melhor controle de si mesma.
Prof. Dr. Mario R. Louzã
Psiquiatra

Médico psiquiatra e psicanalista, doutor em Medicina pela Universidade de Würzburg, Alemanha. Médico Assistente do Instituto de Psiquiatria do HC-FMUSP.

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